Por: Eva Calado
O Projeto ”Inclusion Influencers”, financiado pelo Conselho da Europa e levado a cabo pela RPCI e 3 cidades-membro, teve início a meio deste ano e termina agora em dezembro com o lançamento de novas ferramentas e um kit de atividades para trabalhar a interculturalidade e a não-discriminação junto de crianças e jovens. As ferramentas estão a ser divulgadas essencialmente através das redes sociais, nomeadamente, com a ajuda de influencers.

O problema
Este projeto surgiu por parte das cidades-membro da Rede Portuguesa das Cidades Interculturais – RPCI, e resulta da vontade de abordar e trabalhar alguns dos problemas de discriminação identificados nas mesmas.
Nos últimos anos, as cidades têm vindo a identificar o aumento dos movimentos de extrema direita no país e os riscos que os jovens correm de incorporar crenças errôneas sobre minorias e migrantes que estão a ser disseminadas nas redes sociais.
É notório que a força dessas comunicações nas redes sociais não está a ser correspondida por narrativas alternativas e a maioria dos jovens e crianças não têm o mesmo acesso fácil a outras perspectivas e informações confiáveis.
Tudo isto indica que o futuro das políticas de inclusão e do ambiente de inclusão social que vivemos em Portugal pode estar em risco.
O projeto tem como público-alvo a camada mais jovem da população Portuguesa (10-20 anos).
Os objetivos
Com este projeto, pretende-se criar ferramentas que desmistifiquem e desconstruam mitos relacionados com os migrantes no nosso país, para ajudar no desenvolvimento de espírito crítico, tomada de consciência e aumentar a sensibilidade e empatia para estes temas:
– tornar os jovens “agentes antirrumores”, “agentes da mudança”;
– promover uma forte mensagem de que as cidades Portuguesas estão preparadas para receber e valorizar todos os cidadãos.
– capacitar professores para que possam utilizar esses conteúdos e ferramentas nas suas aulas e, assim, atingindo mais crianças e jovens;
– capacitar técnicos das cidades para utilizar os produtos e metodologias anti-rumores resultantes deste projeto, a fim de manter produção de materiais e campanhas relevantes localmente.
Os objetivos específicos foram definidos em conjunto com o Conselho da Europa e o programa Intercultural Cities, assim que foi decidido avançar com o projeto. A ideia foi sempre, desde o início, a de criar ferramentas digitais, como vídeos, podcasts, memes, etc. que ressoem com o público mais jovem no sentido de identificação com determinadas situações de rumores/ preconceitos e que cheguem aos canais que eles utilizam mais (redes sociais, principalmente), nomeadamente através de influencers.
O processo
A Rede RPCI recorreu à Cooperativa com o mesmo nome para que, com a sua equipa de especialistas, pudesse dar forma ao projeto e cumprir os objetivos definidos.
Foram três as cidades que se disponibilizaram para desenvolver este projeto juntamente com a equipa da RPCI: a Câmara Municipal de Albufeira, a Câmara Municipal de Cascais, e a Câmara Municipal de Viseu.
Este foi o processo levado a cabo para o desenvolvimento do projeto:
- selecionar os 3 rumores a trabalhar, a partir dos principais mitos/rumores que existem nas cidades Portuguesas;
- pesquisar e compilar os respetivos antirrumores;
- realizar Focus Groups com uma amostra do público-alvo, para obter insights e ideias;
- pesquisar e compilar uma lista das celebridades/ influenciadores que estão mais presentes nestas faixas etárias;
- trabalhar com os jovens, as cidades, as escolas e as celebridades/influencers na criação e divulgação dos conteúdos para a campanha.
O primeiro passo foi obter por parte dos técnicos das cidades as informações sobre os mitos mais difundidos entre as gerações mais jovens. De seguida, selecionaram-se os 3 mitos mais comuns entre as cidades participantes na pesquisa (5) e a compilaram-se os respetivos antirrumores – os factos que desconstroem essas crenças.
Estes foram os 3 mitos/ rumores escolhidos para trabalhar, com base em testemunhos de cidadãos Portugueses não-migrantes:
- “as pessoas migrantes vêm para Portugal para nos roubar trabalho”
- “as pessoas migrantes vêm para viver às custas do estado Português”
- “as pessoas migrantes estão ligadas à criminalidade”
Para finalizar o trabalho de preparação, a equipa de projeto quis ouvir diretamente, por parte dos jovens das várias cidades, o que já sabiam sobre este tema e quais seriam as melhores abordagens para criar produtos que ressoem com o público-alvo. Com esse objetivo, foram contactadas várias associações infantis e juvenis que convidaram jovens disponíveis para realizar Focus Groups com a equipa. Foram realizados 3 Focus Groups com crianças e jovens de várias idades (dos 11 aos 21, divididas por escalões etários) de onde se obtiveram insights e ideias importantes para o rumo dos produtos a criar. Para além disso, todos os jovens (acima dos 14 anos) se disponibilizaram para ajudar a desenvolver os produtos em conjunto com a equipa.
De seguida, procedeu-se ao contacto com os influencers previamente selecionados e iniciou-se o trabalho criativo conjunto.
Foi decidido criar duas mini-entrevistas com pessoas migrantes que testemunhem o processo de integração na sociedade e no mercado de trabalho em Portugal, para desmistificar os mitos relacionados com o trabalho e os subsídios; 2 mini bandas desenhadas sobre a criação de um rumor, para desmistificar os mitos relacionados com a criminalidade; e 1 vídeo de culinária com jovens migrantes, para normalizar e harmonizar a riqueza intercultural da nossa gastronomia.
Os resultados
Desde o início do projeto, em julho deste ano, foram atingidos os seguintes resultados:
– foram realizados 3 Focus Groups com jovens de todo o país;
– foram contactados 13 influencers (de uma lista de 54), dos quais 5 responderam positivamente;
– foram definidos os 3 produtos a criar: vídeo culinária com jovens migrantes; vídeo entrevistas com pessoas migrantes; duas tiras de banda desenhada. Estes conteúdos vão disponibilizar de legendas em Inglês, para facilitar o acesso a um público mais alargado;
– foi produzido um vídeo de culinária com o Chef Fábio Bernardino e dois jovens migrantes (o Tini, da Guiné e o Helder, da Venezuela);
– foi apresentado o projeto no programa da Carla Rocha (“Manhãs, Manhãs”), na Rádio Renascença;
– realizaram-se 2 sessões online de formação antirrumores: uma para técnicos das cidades (12 participantes) e outra para professores (25 participantes);
– está a ser criado um kit de atividades que compila as principais ferramentas para trabalhar a interculturalidade com crianças e jovens nas salas de aula e não só;
– no dia 18 de novembro, das 14:30h às 16:30h, ocorreu o Webinar “Recursos para Trabalhar a Inclusão com Crianças e Jovens”, com a presença de vários municípios, escolas, associações e empresas, para além do testemunho de alguns dos jovens e influencers que participaram no projeto;
– convite para participação na Sessão “Comunicar Imigração: Desafios e Estratégias” do Observatório das Migrações, no dia 17 de dezembro.
A campanha foi lançada oficialmente a 8 de novembro com o convite para o evento de lançamento do projeto nas redes sociais, apesar de vários teasers terem sido publicados desde finais de setembro deste ano. Os conteúdos finais foram anunciados no dia 10 dezembro, data em que se iniciou a campanha com os influencers. Os hashtags da campanha são: #nãovásnaconversa #diznãoaosrumores #cidadesinterculturais
Onde pode encontrar as novas ferramentas?
Todos os conteúdos criados podem ser consultados nesta página e também nas contas do Facebook, LinkedIn e Instagram da RPCI.
As cidades e parceiros deste projeto têm também garantido a cobertura da comunicação nas suas redes sociais e nos meios de comunicação locais e nacionais.
Além disso, irão ser distribuídos kits de atividades com base nos produtos criados (e uma compilação de outros que já existiam) a todos os municípios, professores e escolas que o solicitem.