Por: Danielle Menezes, em português brasileiro
Imagine uma escola onde, no pátio, se ouvem sotaques e idiomas de dezenas de nacionalidades diferentes. Esta é a realidade de muitas instituições de ensino em Portugal hoje, um reflexo de um mundo cada vez mais interligado.
Se por um lado essa diversidade é uma riqueza cultural imensa, por outro lado, ela apresenta desafios muito significativos. Como garantir que cada estudante, cada família, se sente verdadeiramente parte da comunidade escolar quando a barreira da língua parece intransponível?
É para responder a esta e outras questões que existem as pessoas mediadoras linguísticas e culturais. São profissionais fundamentais na construção de escolas interculturais. Este é o tema do novo episódio do nosso podcast, “Portugal Plural”, da série especial “Intercultural Educators“.

Para aprofundar o assunto, conversamos com duas mediadoras que atuam em diferentes contextos: Inês Antunes, no Porto, e Maria Rosário Ribeiro, em Oeiras. A partir das suas experiências, o episódio explora o que significa, na prática, construir pontes em ambientes interculturais.
Uma ponte construída no meio e não nas margens
Um dos primeiros pontos abordados no episódio é a desconstrução da ideia de que a pessoa mediadora apenas faz a tradução. Como explica Rosário Ribeiro, a mediação é uma “ponte que vai tentar se encontrar não nas suas margens, mas no meio”. Trata-se de criar um espaço comum de entendimento, onde as partes envolvidas se encontram em pé de igualdade. A função da pessoa mediadora, portanto, não é apenas verter palavras de um idioma para o outro, mas facilitar a comunicação para fortalecer a confiança e o respeito mútuo.
Inês Antunes complementa esta visão, destacando que o objetivo é capacitar e promover a autonomia. O trabalho da pessoa mediadora busca fornecer ferramentas para que estudantes e famílias possam, com o tempo, navegar o sistema escolar e a sociedade de forma mais independente e confiante.
As competências e a “caixa de ferramentas” da mediação linguística
Uma curiosidade que o episódio explora é: como a pessoa mediadora lida com múltiplos idiomas que, muitas vezes, ela própria não domina? As entrevistadas partilham a sua “caixa de ferramentas” prática, que vai desde o uso de tecnologia e do inglês como língua franca, até a mobilização de voluntários da própria comunidade para apoiar na comunicação.
No entanto, as ferramentas mais importantes não são tecnológicas, mas humanas. No podcast, Inês e Rosário destacam duas competências centrais:
- Empatia: a capacidade de se colocar no lugar do outro e aceitar a diferença como ponto de partida para qualquer interação.
- Curiosidade: um interesse genuíno em conhecer a cultura do outro, deixando de lado vieses e preconceitos para criar uma conexão real.
O impacto real da mediação linguística
Para ilustrar o alcance deste trabalho, o episódio traz relatos individuais e quotidianos, como a história de um jovem estudante introvertido que, por dificuldades de comunicação, corria o risco de ser encaminhado de forma inadequada para o ensino especial. A intervenção da mediação foi fundamental para que a escola compreendesse a sua verdadeira situação, alterando a sua trajetória educativa.
Além dos casos individuais, discutimos o impacto coletivo, como a realização de uma “escola de verão” que não só aproximou os estudantes da língua portuguesa, mas também envolveu as famílias, que relataram ouvir os filhos falarem português em casa com mais frequência e entusiasmo.
Um trabalho em rede e os desafios futuros
A mediação não acontece de forma isolada. Como detalhado no episódio, a pessoa mediadora atua em rede, articulando o seu trabalho com docentes, psicólogos escolares e assistentes sociais, garantindo um acolhimento completo a estudantes e famílias.
Apesar da sua importância crescente, a profissão ainda enfrenta desafios. Um dos pontos centrais da conversa é a necessidade de fomentar uma mudança de mentalidade em toda a comunidade escolar, para superar a visão de “nós e os outros” e abraçar a diversidade como algo que enriquece a todos.
Esta conversa é um convite à reflexão sobre o papel de cada um de nós na construção de espaços verdadeiramente inclusivos. Ouça o episódio completo de “Portugal Plural” na sua plataforma de podcast preferida e junte-se a nós nesta discussão fundamental.
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