Por: Danielle Menezes, em português brasileiro
Já está no ar o novo episódio do podcast Portugal Plural, parte da nossa série especial “Intercultural Educators”. Esta série é uma iniciativa dedicada à construção de escolas mais justas, abertas e plurais, promovida pela Cooperativa Rede Portuguesa de Cidades Interculturais (RPCI) com o apoio do Conselho da Europa.
Nesta conversa, mergulhamos fundo no conceito e, principalmente, na prática das competências interculturais no contexto educativo português.
Para debater o tema, recebemos duas convidadas com vasta experiência na área:
- Mónica Mascarenhas, da equipe técnica da Rede de Escolas para Educação Intercultural (REEI).
- Joana Inácio, mediadora escolar no Agrupamento de Escolas de Agualva Mira Sintra.
O episódio foca no trabalho essencial da REEI, um programa que une escolas de todo o país. O objetivo? Formar competências interculturais e promover o sucesso educativo das novas gerações.
Conhecendo a REEI: Aprendizado colaborativo
A Rede de Escolas para a Educação Intercultural (REEI) é uma iniciativa conjunta que reúne entidades governamentais e da sociedade civil. Foi fundada pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM, I.P.) — atualmente a AIMA (Agência para a Integração, Migrações e Asilo) —, o Ministério da Educação (através da Direção-Geral da Educação – DGE) e a Fundação Aga Khan Portugal (AKF).
O objetivo central do programa é constituir uma rede de estabelecimentos de ensino, tanto públicos como privados, envolvida na transformação da escola, na sua organização e na sua abordagem pedagógica, visando a interculturalidade.
A finalidade da REEI é promover o acolhimento, a integração e o sucesso educativo de todas as crianças e jovens, desde a educação pré-escolar até o ensino secundário. Além disso, busca desenvolver o respeito pelas diferenças e o estabelecimento de relações positivas de interação e aproximação entre estudantes e outros membros da comunidade educativa de diferentes culturas.
Mónica Mascarenhas, da equipe técnica da rede, define a REEI como uma “rede de aprendizagem cooperada”. Esta filosofia reflete-se na forma como as escolas aderem ao programa: a participação é voluntária e acontece quando a escola decide subscrever os termos de referência da rede. A estrutura é desenhada para funcionar sem hierarquias, promovendo um ambiente onde “todos aprendem e ensinam”.
Lançada como um programa-piloto entre 2016 e 2019 com 23 membros, a REEI inaugurou um novo ciclo em 2020, ampliando substancialmente sua abrangência para 47 membros em 14 distritos.
O Valor da Rede: A experiência das escolas membro
A conversa conta também com a perspectiva de quem vive essa rede no dia a dia. Joana Inácio, do Agrupamento de Escolas de Agualva Mira Sintra (que integra a REEI desde o ano letivo 2020-2021), partilha o valor prático desta participação.
Para Joana, o maior benefício é a partilha de caminhos e a certeza de “não estarmos sozinhos”. Ela destaca que, embora cada contexto local seja diferente, os desafios da interculturalidade são transversais. A rede permite “co-construir” novas formas de entender a realidade.
Refletir sobre a ação: Os desafios da rotina escolar
Joana Inácio traz uma reflexão central sobre os desafios atuais, impulsionados pelos movimentos migratórios e sociodemográficos. Ela levanta uma questão crucial: a dificuldade de “fazer uma pausa” para refletir na ação e sobre a ação.
Os profissionais da educação, explica ela, lidam com uma enorme sobrecarga associada ao currículo, questões burocráticas e a própria falta de docentes.
Nesse contexto, Joana faz um alerta: uma escola não se torna plural “por decreto”. É um processo contínuo, que exige atenção constante às necessidades da comunidade, que estão sempre se renovando.
Educação intercultural: a importância da práxis
Mónica Mascarenhas aprofunda o conceito de competência intercultural, indo além da ideia de simplesmente conhecer as pessoas com quem interagimos. O foco deve estar na práxis – na reflexão sobre o porquê fazemos o que fazemos.
Implica, segundo Mónica, a necessidade de fazer uma grande reflexão para garantir um espaço em que seja possível ser, estar, cooperar e aprender. Antes de entender as outras pessoas, é preciso entender a nossa própria identidade e as lentes que usamos para ver o mundo.
O Futuro da da educação intercultural
Na parte final do episódio, as convidadas discutem o futuro. Joana Inácio defende que a solução para os desafios sistêmicos passa por um “diagnóstico mais participativo de todos” na construção do projeto educativo da escola. Quando isso acontece, a cultura torna-se partilhada e os valores que norteiam a ação são definidos coletivamente.
Mónica Mascarenhas conclui reforçando que o modelo “bancário” de educação (apenas transmitir conhecimento técnico) está desalinhado com o mundo atual. Ela sublinha a importância de investir nas competências socioemocionais, que, segundo as evidências, são fundamentais para o sucesso educativo e para a vida.
Esta é uma conversa essencial para quem acredita numa educação transformadora.
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